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Outubro 23, 2020. Por Organizações Especialistas na Agenda Climática

Segurança climática

Este contenido forma parte del curso Seja eleita com propostas para o futuro da sua cidade
Segurança: como preparar a cidade para enfrentar riscos, em tempos de mudanças no clima 

As cidades precisam aprender a oferecer segurança e proteger seus habitantes, nestes tempos desafiadores que estão pela frente. Veremos nos próximos anos um aumento na quantidade e na intensidade de eventos extremos — ciclones, enchentes, secas, incêndios. Uma cidade resiliente precisa estar pronta para tratar essas emergências de modo que cause menos impacto na sociedade e que proteja seus cidadãos e cidadãs.

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Manter as pessoas seguras, no século 21, tornou-se um trabalho de grande complexidade, que exige um corpo de servidores especializados, com conhecimento técnico, de várias áreas. Vai muito além de gerir forças armadas. Viveremos nos próximos anos eventos extremos como nunca vimos antes: tempestades, enchentes, secas, incêndios, epidemias. Veremos também combinações cada vez maiores entre esses eventos, com múltiplas ameaças se abatendo simultaneamente sobre as cidades e as pessoas. Os modelos feitos pelos cientistas são bem claros: cidades de todas as regiões do Brasil sofrerão com isso1. É inevitável.

O que pode sim ser evitado é a perda de vidas, o sofrimento humano e a disrupção social que esses eventos causarão. Qualquer gestão pública nestes tempos perigosos precisa estar focada em preparar sua cidade para os desafios que vêm aí — porque é certo que eles virão.

Mostra mudanças climáticasSão tempos também de política inflamada, com muita raiva e polarização e de crise econômica, com pobreza e desemprego. E os índices de violência estão altíssimos. Nesse clima inflamável, é prudente que a gestão da cidade trabalhe para reduzir as tensões e promover o diálogo, abrindo canais de comunicação.

O cuidado do espaço público é uma política de segurança. Espaço limpo, bem iluminado, mantido com capricho atrai a comunidade para a rua e reduz a depredação e a violência. Estimular a vida comunitária — crianças brincando, vizinhança convivendo em harmonia, mães e pais na janela, comerciantes na porta dos seus negócios, pessoas caminhando — é um jeito de aumentar a segurança 2

Envolver os habitantes, inclusive os jovens, em todas as decisões que lhes dizem respeito é fundamental para que essas políticas funcionem. Quando a população se apropria dos espaços o trabalho de promoção da segurança é compartilhado por toda a comunidade.

Adaptação climática

  • É URGENTE ter uma estratégia sólida e detalhada para lidar com desastres naturais. Toda cidade precisa mapear e monitorar suas áreas de risco, tendo em mente que o passado não serve mais de guia, já que os eventos estão ficando cada vez mais extremos, e portanto frequentemente temos que lidar com desastres que nunca aconteceram antes. É fundamental ter dados sobre os efeitos locais das mudanças climáticas. Também é crucial ter uma boa central de monitoramento da defesa civil municipal, para se antecipar a deslizamentos, enchentes e outros desastres naturais.
  • É NECESSÁRIO construir infraestrutura de proteção. Quando falamos de chuvas fortes e alagamentos, por exemplo, que assombram a maior parte das cidades brasileiras, uma medida de adaptação fundamental é criar formas de reduzir a velocidade e o volume da água em caso de chuvas fortes. Há medidas simples que ajudam a reduzir os riscos de deslizamentos, como a plantação de grama e capim nas encostas, pois as raízes ajudam a firmar o solo. Também é possível minimizar os alagamentos na cidade espalhando superfícies permeáveis pelo espaço urbano — se a água entra no solo, ela não arrasta as casas. Uma boa inspiração vem da China, onde cerca de 30 cidades assumiram o compromisso de se tornar “cidades-esponja”, substituindo grandes superfícies cimentadas por áreas verdes.
  • UM DESAFIO: parte dos danos nas cidades já são irreversíveis. Sessenta por cento do litoral brasileiro já sofre com erosão3, agravada pela ação humana. Além disso, há uma pressão constante para avançar sobre biomas como mangues e restingas, fundamentais na luta contra o avanço do mar. Cabe às gestões municipais a obrigação de conter o avanço de construções em áreas sensíveis.
  • UMA IDEIA: ensinar prevenção de riscos e resposta a desastres nas escolas. A Defesa Civil municipal do Rio de Janeiro leva palestras e oficinas técnicas para as escolas públicas e privadas da cidade e, usando jogos, ensina as crianças a identificar situações de perigo e a agir em casos graves, como incêndios.

Bairros seguros

  • É URGENTE trazer a população para perto. Um jeito é fortalecer canais de participação popular, ampliar a atuação das subprefeituras e conselhos de bairro. A gestão pública precisa ser capaz de se aliar à organização comunitária, para agregar saberes diversos – da guarda municipal à engenharia, passando por assistência social, saúde, educação e cultura. É importante que haja um processo coletivo de tomada de consciência pela população dos principais riscos no horizonte e dos melhores alternativas para lidar com eles.
  • É NECESSÁRIO cuidar do espaço público, para que ele convide a comunidade. A polícia é necessária para lidar com certos riscos, mas segurança pública é uma questão transversal muito ligada à construção de vizinhanças solidárias, engajadas num trabalho conjunto por segurança e bem estar. Esse processo pode ser estimulado por ambientes bem cuidados, sem tráfego pesado de veículos, com equipamentos públicos de alta qualidade, limpeza e iluminação adequadas. Quando há crianças brincando nas calçadas, mães e pais olhando pela janela, comerciantes esperando fregueses na porta e um senso de comunidade forte, no qual todo mundo se sente responsável pelo cuidado com a vizinhança, os riscos à segurança diminuem.
  • UM DESAFIO: a população tem pouca confiança no poder público. 51% dos brasileiros têm medo da polícia4, e mais de 90% acreditam que os políticos não são transparentes e que não pensam na população para tomar decisões5. O poder público precisa recuperar essa confiança, convidando a população a participar da gestão — que deve ser transparente e aberta.
  • UMA IDEIA: semeie a vida nos bairros, para deixá-los mais seguros. Uma inspiração é Medellín, sem dúvida um exemplo de sucesso na promoção da segurança na cidade, com drástica redução dos crimes violentos. O mérito está longe de ser só das ações policiais: a cidade buscou consolidar um projeto de modernização social e urbana. O governo local construiu mais bibliotecas e escolas do que delegacias, e isso foi crucial para mudar a dinâmica da violência6, engajando a juventude na ideia de cidadania. Um exemplo muito interessante são os Parques Biblioteca, que funcionam não só para receber atividades de leitura e debate, mas para a prática de diversas atividades, fortalecendo a formação e a participação política da comunidade.

 

IMAGINE O DIA em que as pessoas poderão viver nas cidades sem medo. Com isso, aumentam as taxas de confiança nas outras pessoas, que no Brasil hoje estão entre as mais baixas do mundo. Confiança é a base de comunidades felizes e prósperas – quando as pessoas confiam umas nas outras, surgem parcerias e negócios acontecem.

NÃO ESQUEÇA: Soluções verdadeiras para a segurança demandam paciência e visão de longo prazo. Só que o eleitorado está com medo e demanda soluções imediatas. Conciliar esse senso de urgência com a necessidade de começar uma construção lenta na direção certa vai demandar uma gestão transparente e participativa, na qual todo mundo sinta-se escutado.

Conteúdo revisado em 15 de dezembro de 2023.

  1. PBMC, 2016: Mudanças Climáticas e Cidades. Relatório Especial do Painel Brasileiro de  Mudanças  Climáticas  [Ribeiro,  S.K.,  Santos,  A.S.  (Eds.)].  PBMC,  COPPE  –  UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil. 116p.
  2. Esse é o conceito de “olhos da rua”, criado pela escritora Jane Jacobs no clássico do urbanismo “Morte e Vida de Grandes Cidades”.
  3. Ministério do Meio Ambiente: Panorama da Erosão Costeira no Brasil, Programa de Geologia e Geofísica Marinha, 2018. Ver mais em: Ambiente Brasil, Como a erosão afeta 60% do litoral brasileiro e deforma centenas de quilômetros de praia, 14/01/2019.
  4. https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/04/11/datafolha-aponta-que-51percent-dos-brasileiros-tem-medo-da-policia-e-47percent-confiam-nos-policiais.ghtml
  5. Instituto Locomotiva, 2018. Ver mais em: G1, Brasileiros não se sentem representados por políticos em exercício, aponta pesquisa. 02/02/2018.
  6. Instituto Igarapé, 2016: Tornando as cidades mais seguras:Inovações em segurança cidadã na América Latina. Rio de Janeiro, Brasil, p. 18-22.
Organizações Especialistas na Agenda Climática

Conteúdo elaborado por uma coalizão de organizações da sociedade civil e especialistas da área socioambiental e climática.