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Uso de dados em campanhas eleitorais

Por Beatriz Amparo

Quando pensamos em dados, logo nos vem à mente números e estatísticas, gráficos e proporções. E são, mas, além disso, durante a jornada enquanto candidata, os dados são elementos centrais para apoiar o desenho da sua estratégia de campanha e para comunicar ao seu eleitorado o porquê as suas propostas e agendas políticas são importantes para transformar a realidade da sociedade para o melhor.  

Os dados são elementos e números exatos que podem se transformar em uma informação. Através da análise dos dados, você é capaz de identificar os desafios e problemas do seu estado para pensar ações e políticas públicas que possam solucioná-los. É importante ter em mente que os dados são uma fotografia de um momento, que tem marco temporal, público e localidade. 

mulher negra de blusa amarela com fundo da imagem branco

Beatriz Amparo é coordenadora do Institucional do movimento Mulheres Negras Decidem. 

Foto: Arquivo Pessoal.

 

O que isso quer dizer? Que a análise dos dados deve sempre considerar o contexto que foram coletados. São dados com uma amostra que representa toda a população brasileira, como as pesquisas produzidas pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, por exemplo? Ou são dados que não podem ser projetados para toda a população, mas representam a opinião de um público específico? Os dados são de âmbito nacional ou se referem a opinião de pessoas de apenas uma região? Essas informações detalhadas na metodologia das pesquisas e bases de dados apresentarão, com transparência, qual foi o processo de coleta dos dados, dando credibilidade aos números, e te apoiando a construir as análises e pensar as narrativas. 

Na prática, os conjuntos de dados possuem as características das pessoas que as responderam, desde atributos de perfil, como gênero, raça/cor, idade e sexualidade, ou mesmo região, até os hábitos e comportamentos. Associados a alguma temática pública, como Saúde, Educação, Segurança Pública e/ou Trabalho e Renda, por exemplo, os dados podem apontar como a população está sendo impactada por alguma política pública existente ou pela ausência dela. 

Atenção: Em tempos de tanta desinformação, é importante que você sempre cheque os dados para que, de fato, possam te orientar nas estratégias da sua campanha, sobretudo quando os dados são extraídos de notícias.

Esta é uma das etapas importantes durante a campanha: para além de entender sobre a sua região e a população, entenda quais são os principais problemas que as pessoas enfrentam. Estes problemas estão sendo contemplados pelas suas pautas? Durante as agendas de campanha e até mesmo na comunicação da sua campanha nas redes sociais e outros canais digitais, o eleitorado quer saber se você vai resolver os problemas que os atravessam pessoalmente.

Neste momento, o eleitorado tem a oportunidade de conhecê-la melhor, então é importante que esteja por dentro dos desafios da sua região e que aponte caminhos para um futuro melhor – parece utópico, mas, na verdade, o seu eleitorado quer saber se você a entende e vive a mesma realidade. 

Os dados não distanciam você do seu eleitorado por se tratar apenas de números. Na verdade, os dados a aproximam da realidade de milhares de pessoas que você está buscando representar. Então, sempre que analisar e comunicar uma informação, leve em conta o contexto e as histórias individuais que os números representam.

Vale ressaltar que durante a campanha eleitoral, os dados podem te apoiar em diferentes dimensões – na estratégia para traçar cenários e no campo tático para desenhar as ações e os passos de curto prazo que a ajudarão a alcançar a meta final.  

Exemplo: Se você está se candidatando pela primeira vez, é importante identificar a proporção de eleitores que votaram no seu partido por perfil e cidade na última eleição – esses dados podem ser extraídos no portal de dados abertos do TSE

Com essa informação, você pode direcionar as prioridades de articulação territorial, ou mesmo identificar os pontos focais que o seu partido pode impulsionar na sua campanha – diretamente ou indiretamente. 

Outro exemplo de uso de dados, é na comunicação das suas pautas e prioridades de campanha: 

A taxa de desemprego é maior entre as mulheres: dos 12 milhões de brasileiros desempregados, 6,5 milhões são mulheres. 

Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE), a desigualdade de gênero na esfera do trabalho e renda influencia a vida das mulheres no Brasil. Este é um dos exemplos que podem justificar a priorização da sua agenda com foco nas mulheres, por exemplo. Associado a outros marcadores sociais da diferença, como raça/cor, vemos que as mulheres negras são ainda mais afetadas.

A geração de dados desagregados por gênero, raça e sexualidade no Brasil ainda é um desafio no Brasil. Além da falta de  Democratização do acesso ao uso de dados, há ausência de informações novas e relevantes que possam compartilhar como vivem pessoas de diferentes grupos sociais. Para saber mais, recomendo o podcast do data_lábia – episódios: Democratização dos dados e Dados ausentes

Mas além de compartilhar com você a importância do uso de dados nas campanhas eleitorais, trago abaixo algumas dicas que podem te apoiar a buscar, usar e analisar dados. 

O pessoal do data_labe – organização de mídia e pesquisa com sede na favela da Maré, no Rio de Janeiro, produziu um guia para quem quer aprender a tratar, analisar e visualizar dados, sem caô. O guia é bem completo e ensina a procurar os dados, tratar e analisar, além de gerar mapas e gráficos.

A Rede de mulheres dA Ponte – organização que busca fortalecer a atuação de mulheres na política com a expertise de pesquisa e prática de governo – elaboram Resumos de Políticas Públicas com conteúdos temáticos (primeira infância, atenção básica à saúde, violência contra a mulher etc) com diagnósticos, exemplos de políticas públicas exitosas, evidências de impacto avaliadas  e dicas onde buscar dados sobre o tema.

E outras fontes onde encontrar dados:

  • A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) é um inquérito de saúde de base domiciliar, de âmbito nacional, realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos anos de 2013 e 2019
  • O Observatório de Educação Ensino Médio e Gestão é uma plataforma do Instituto Unibanco com documentos, entre análises e curadoria de artigos, teses, dados estatísticos e eventos, além de produção audiovisual sobre Ensino Médio e Gestão em Educação Pública.

Além disso, tem muitas instituições e organizações sociais que produzem dados e pesquisas relevantes para subsidiar o desenho das propostas de governos e políticas públicas:

Sobre a autora: Beatriz Amparo – socióloga, curadora de conhecimento e pesquisadora. Atualmente, está à frente da Coordenação Institucional do movimento Mulheres Negras Decidem.