Im.pulsa

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Seja eleita com propostas para o futuro da sua cidade

Emprego e desenvolvimento

Como retomar a atividade econômica pensando no futuro.

Estamos diante de um momento crucial da história das cidades brasileiras. Mergulhadas num colapso econômico, social e ambiental, elas precisam se reerguer, com urgência. Mas essa necessidade pode ser vista também como uma grande oportunidade de desenvolvimento. Os prefeitos e vereadores que forem eleitos em 2020 devem ter a responsabilidade de posicionar nossas cidades para o futuro, encaixando-as no novo modelo de desenvolvimento, que faça um uso racional dos seus recursos e seja resiliente para enfrentar os desafios que nos aguardam, que não são poucos.

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Metade dos brasileiros teve uma perda de renda durante uma pandemia, e o baque está sendo maior nas famílias que possuem até dois preços por mês1.
Entre as empresas, as menores são as mais duramente afetadas2. Ao mesmo tempo, a crise climática está se intensificando rapidamente, com um aumento na incidência e na intensidade de desastres – inundações, deslizamentos, secas, fumaça de incêndios. Essas duas grandes crises só têm solução real se juntas forem abordadas. O trabalho de adequar as cidades às novas realidades do clima tem que ser o impulso que vai empurrá-las para fora da crise econômica, gerando empregos e provedores de recursos financeiros. 

Cidades que fizerem isso vão se posicionar para receber investimentos internacionais, de empresas, governos, organizações supranacionais e do terceiro setor – fundamentais em tempos de crise fiscal no Brasil. Cada vez mais, o acesso a esses recursos será condicionado a ter projetos que levem em conta as mudanças climáticas e ajudem a reduzir seus efeitos destrutivos.

É hora das cidades identificarem seus recursos subutilizados e criar cadeias proporcionadas por eles, pensando no desenvolvimento . Um bom lugar para procurar é no lixo: todas as cidades brasileiras descartam materiais valiosos, desperdiçando potencializar. Outro caminho é incentivar a descentralização da atividade econômica, espalhando oportunidades por todo o território.            

 Os desafios são imensos e uma gestão comprometida com a mudança. É preciso se antecipar aos desastres possíveis, garantindo uma resposta rápida nos momentos de crise. Uma gestão resiliente é aquela que tem visão de longo prazo, criatividade, organização e compromisso com a promoção da qualidade de vida, a superação de desigualdades históricas, a restauração dos ecossistemas destruídos e a recuperação da eficiência na gestão pública. É hora de pensar no desenvolvimento integral da cidade, olhando para os pilares que escolha o indivíduo, a comunidade, o ecossistema e a governança. Seguindo esse caminho, é possível não apenas superar uma crise imediata, mas também deixar um legado permanente.

Emprego e renda

Economia circular

IMAGINE O DIA EM QUE a vida de cada bairro sustente uma economia vibrante e cheia de oportunidades por lá mesmo. Imagine que muitas dessas oportunidades podem estar no trabalho de transformados em recursos, acabando com os desperdícios e criando valor onde antes só havia lixo.

NÃO ESQUEÇA

Não adianta tentar reaquecer a economia das cidades investindo os escassos recursos num modelo predatório, que já não tinha futuro. O futuro dos investimentos e dos empregos é verde, ee apostar nessa chave é essencial para uma recuperação econômica que se sustente. Cada real gasto na reconstrução da economia pós-pandemia precisa ao mesmo tempo ajudar a criar as bases para uma nova economia, resiliente e sustentável, que pense no longo prazo. Quanto mais cedo ocorrer essa transição, será possível ocorrer mais cedo da crise e mais oportunidades estarão disponíveis no caminho para alavancar esse processo.

 

Conteúdo revisado em 15 de dezembro de 2023.

  1. Datafolha, agosto de 2020. Ver mais em: G1, Datafolha: 46% dos brasileiros dizem ter tido redução na renda familiar por causa da pandemia , 20/08/2020.
  2. IBGE, setembro de 2020. Ver mais em: IG, IBGE: Impacto da crise é maior para pequena empresa; 277 mil demitiram em agosto , 15/09/2020

Mobilidade para uma cidade justa e acessível

As cidades brasileiras precisam de uma revolução na mobilidade, para reduzir as desigualdades, sem correr riscos.

As cidades brasileiras cuidam muito mal de seus habitantes, durante seus deslocamentos. A desigualdade é imensa na mobilidade urbana nas cidades do país. Isso reflete numa desigualdade de oportunidades. Com a atividade econômica concentrada nos centros, os habitantes das periferias são roubados de grande parte do seu tempo em deslocamentos. Segundo dados do Censo, mais de 1 milhão dos brasileiros perdem mais de 2 horas ao dia entre a casa e o trabalho1 – tempo que poderia ser dedicado ao cuidado dos outros e de si próprio.

Essa desigualdade acaba alimentando outras. A população que passa mais tempo no trânsito respira mais velha, o que está previsto uma expectativa de vida: viver numa cidade poluída aumenta em 75% conforme as chances de um ataque cardíaco 2. A violência no trânsito também atinge de maneira desigual as fontes periféricas, neste país onde 30.000 pessoas morrem no trânsito por ano e cerca de 15% das internações por causas externas em hospitais públicos são de acidentes de trânsito. Além disso, quanto mais tempo passamos no trânsito, menos tempo sobra para a família, a casa, o lazer e os estudos. 

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A pandemia tende a agravar essas desigualdades, ao aumentar os riscos à saúde das pessoas que precisam se aglomerar no transporte público e criar incentivos para que mais carros particulares circulem, o que levaria a um aumento da violência e dos congestionamentos no trânsito. Outro efeito nocivo do aumento da frota de carros seria um agravamento das mudanças climáticas, que também afetam de maneira desproporcional os habitantes das periferias.

Esse cenário impõe a necessidade de repensar de maneira profunda todo o sistema de mobilidade urbana das grandes cidades brasileiras, com ações emergenciais que precisam ser adotadas imediatamente e também com a implementação planejada de uma nova lógica ao sistema todo, com veículos mais ágeis, circulando em corredores. Será preciso adaptar o transporte público aos novos riscos sanitários e ampliar frota de ônibus elétricos.

Outra necessidade inescapável é ampliar muito o deslocamento ativo, de bicicleta e o pé. Andar de bicicleta não é para todo o mundo, mas o benefício que elas geram é. Mais gente de bicicleta significa menos carro na rua, mais movimento nos comércios e negócios locais (mais ganhos para a economia) e mais saúde (redução de custos no orçamento). Por isso, políticas cicloviárias sólidas não devem ser vistas como políticas que favorecem poucos, elas proporcionam a promover uma cidade mais equilibrada. As calçadas também devem ser prioritárias – elas são chave para a segurança da mobilidade a pé, a mais frequente na rotina dos brasileiros, e para ampliar a acessibilidade da cidade, garantindo a todos o direito de ir e vir inválido, sem tentar.

Além disso, é impossível pensar a mobilidade de maneira isolada. Esse debate está intimamente conectado com um outro: o da descentralização das oportunidades. As administrações municipais têm um papel importante no incentivo às oportunidades de promoção longe do centro e ao trabalho remoto, diminuindo conforme o deslocamento.

Fique atento aos próximos meses, na medida em que começar a recuperação da pandemia. Devem surgir oportunidades de financiamento de associações internacionais para projetos urbanos. Esse financiamento muito provavelmente estará vinculado a obrigações climáticas e também a uma atenção às questões de raça e gênero. Não custa nada ter uma ideia na manga.

 

Transporte coletivo

Mobilidade Ativa

Segurança na rua

 

IMAGINE O DIA em que, no final da manhã, quando acaba a escola, a rua se encher de crianças saindo da aula, a maioria com bicicletas, muitas a pé, muitas no ônibus. Elas vão sozinhas da e para a escola, liberando os pais para trabalhar, porque a calçada está cheia de gente da comunidade, e olhando da porta de seus comércios, ou circulando para lá e para cá. Há inclusive muitas mulheres, e onde há mulheres as crianças estão seguras. Isso é possível, com um outro sistema de mobilidade.

 

NÃO ESQUEÇA

Usufruir da cidade com qualidade e segurança não é um luxo. Discutir mobilidade é falar sobre sustentabilidade, justiça e saúde pública.

Conteúdo revisado em 15 de dezembro de 2023.

 

  1. IBGE, Censo 2010. Ver mais em: Valor Econômico, “ IBGE: mais de 1 milhão de pessoas levam mais de 2 horas até o trabalho ”, 27/04/2012.
  2. OLMO, N. et al. Clinics, v. 66, n. 4, São Paulo, 2011. Ver mais em: WRI Brasil, “ Qual o impacto da proliferação do ar na saúde? ”, 27/07/2018.
  3. Lima, G. et al. Transporte público e COVID-19: o que pode ser feito? Rio de Janeiro: FGV CERI, 2020.
  4. Saúde Brasil, Mortes devido à poluição aumentam 14% em dez anos no Brasil, 2019
  5. PIMENTEL-SOUZA, F. A sonora sonora ataca traiço fortemente o corpo. Na Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (AMDA), Apostila “Meio Ambiente em Diversos Enfoques”, “Projeto Jambreiro”. AMDA, Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Secretaria Municipal da Educação, BH, p. 24-26. 1992
  6. BNDES Finem – Meio Ambiente. Financiamento à compra e produção de ônibus elétricos, híbridos ou outros modelos com tração elétrica.
  7. Estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Político-Econômica da Universidade de Massachusetts (PERI, em inglês) identificou que, para cada milhão de dólares investido em infraestrutura cicloviária, 11,4 postos de trabalho são criados. Ver mais em: Archdaily, Construir ciclovias gera mais empregos que criar infraestrutura para automóveis , 07/06/2015.
  8. Um estudo conduzido na Nova Zelândia e publicado na revista científica Perspectivas de saúde ambiental revelados que, cada dólar gasto com a construção de ciclovias, as cidades podem economizar até 24 dólares com a redução de custos com saúde, população e tráfego.Ver mais em: The City Fix Brasil, A economia da bicicleta: criação de empregos e fomento ao comércio local , 25/07/2016.
  9. Pesquisa realizada no Coppe / UFRJ identificou o custo do deslocamento com bicicleta é de R $ 0,121 / km, enquanto um automóvel movido a gasolina gasta R $ 0,763 / km. Ver mais em: O Eco, Andar de bicicleta é 6 vezes mais barato do que de carro , 26/10/2011.
  10. IPEA, Estimativa dos Custos dos Acidentes de Trânsito no Brasil com Base na Atualização Simplificada das Pesquisas Anteriores do Ipea , Brasília, 2015.

Cidade saudável

Como cuidar da saúde das pessoas — e não só da doença.

Uma cidade saudável não é só questão de ter posto de saúde ou hospital. Claro que unidades de saúde são fundamentais na prevenção de doenças, no diagnóstico precoce e na vacinação da população, e o sistema precisa ser ampliado e melhorado. Mas uma cidade verdadeiramente saudável precisa de mais do que bom atendimento médico: é aquela que facilita e incentiva todo mundo, rico e pobre, a viver de maneira saudável.

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Em bairros onde as pessoas andam muito a pé, há menos infartos1. Em lugares onde a comida é boa, os índices de câncer são menores. Em lugares onde há paisagens acolhedoras, com água limpa fluindo, os níveis de ansiedade e depressão melhoram2. Em espaços onde há menos motores a combustão, há também menos doenças respiratórias, da asma ao câncer3. Em lugares onde as pessoas se encontram, há mais senso de comunidade e ajuda mútua, que alivia o trabalho do Estado. E todo mundo fica mais feliz, porque a vida comunitária aumenta as taxas de felicidade4 mais do que dinheiro.

As cidades brasileiras são muito desiguais nas condições que oferecem para uma vida saudável. Os moradores das periferias respiram mais fumaça porque fazem percursos mais longos — em São Paulo a poluição mata dez pessoas por dia. Além disso, eles comumente convivem com esgoto a céu aberto: 47% da população brasileira não está conectada a rede de esgoto5. O tratamento dos resíduos sólidos também é insuficiente: metade do Brasil ainda tem lixões6. Para completar, os mais pobres têm menos acesso a espaços públicos bem cuidados e seguros, que estimulem a vida ativa ao ar livre, e previnem contra distúrbios mentais.

Reduzir essas desigualdades é urgente por uma questão de justiça, mas também porque uma cidade saudável precisa ser inteira saudável: afinal, a cidade toda está interligada pelo fluxo de pessoas. Não adianta ter os melhores hospitais do mundo no centro se falta saneamento básico na periferia. Embora os estados tenham grande responsabilidade por obras de saneamento, as cidades precisam assumir um protagonismo muito maior no tema.

A importância de ter cidades saudáveis aumenta muito em tempos de pandemia. É sabido que os índices de transmissão do Covid-19 são muito mais baixos ao ar livre7, portanto é urgente que o espaço público acolha grande parte da vida que costumava acontecer em ambientes fechados. Escolas, mercados, serviços de saúde e restaurantes podem precisar se espalhar pelas calçadas e ruas do entorno, para evitar aglomerações em espaços fechados. É fundamental que os gestores públicos saibam ajudar a operar essa reorganização do espaço.

A pandemia também reforça uma necessidade que já era urgente antes: a de oferecer água limpa no espaço público, pelo bem de todos. Outro item básico de uma cidade saudável são as áreas verdes — para o lazer, para a regulação térmica, para absorver as águas da chuva, atenuar os efeitos das mudanças climáticas e também para produzir alimento saudável e acessível.

Todas as cidades brasileiras, sem nenhuma exceção, têm graves problemas sanitários: prova disso é a dificuldade imensa de encontrar um único rio urbano que seja potável e apropriado para o banho. Não há solução mágica e rápida para esse problema sistêmico, mas há sim muito trabalho a ser feito por gestores públicos comprometidos com o cuidado das pessoas e dos espaços.

Saúde em tempos de pandemia

A saúde do espaço público

Cidade alimentada

IMAGINE O DIA em que será possível de novo nadar em todos os corpos de água natural da sua cidade. Parece inacreditável, mas tornar um curso d’água limpo é simplesmente questão de parar de sujá-lo, criando sistemas de tratamento de resíduos adequados. Ao longo das últimas décadas, algumas poucas cidades do mundo conseguiram fazer isso: em Copenhague, que já foi poluída, hoje dá para nadar em todos os rios, canais e até no porto. No calor do Brasil, a meta tinha que ser essa.

NÃO ESQUEÇA

Cuide da sua saúde também. Claro que não é fácil durante uma campanha eleitoral, mas tente dormir o suficiente, comer comida fresca com predomínio de vegetais e frutas, e beber muita água. Um bom hábito para o político local é caminhar: ajuda a entender os problemas da cidade pela escala humana, enquanto reduz as chances de doença cardíaca e se aproxima dos cidadãos e cidadãs.

 

Conteúdo revisado em 15 de dezembro de 2023.

 

 

  1. Bastam 30 minutos de atividade leve por dia para reduzir os riscos de doenças cardiovasculares. Ver mais em: Correio Braziliense, Meia hora de exercícios por dia é suficiente para evitar infarto e derrame, 22/09/17.
  2. Essa medida beneficia ainda mais a saúde mental das pessoas de baixa renda, que dependem mais das condições da vizinhança do que as classes mais altas, que tem outras opções de lazer. Ver mais em: Socientifica, Viver perto de áreas verdes reduz chance de transtornos mentais, 21/02/20.
  3. Saúde Brasil, 2018.
  4. ELVAS, S.; MONIZ, M. Sentimento de comunidade, qualidade e satisfação de vida. Análise Psicológica, v.28, n.3, Lisboa, set. 2010.
  5. Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), 2018.
  6. Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana (ISLU). Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb) e PwC Brasil, 2020.
  7. Os estudos já feitos sobre locais de contágio indicam que a grande maioria se dá em lugares fechados. Ver mais em: El País, O ar livre como profilaxia contra o coronavírus, 29/05/20
  8. https://diariodotransporte.com.br/2020/04/28/onibus-de-sao-caetano-do-sul-tem-limpeza-reforcada-e-estacao-de-trem-recebe-ponto-para-higienizacao-das-maos/
  9. Ver mais em: O Eco, Redução de áreas verdes em São Paulo favorecemosquitos vetores, 18/01/2018.
  10. Ver mais em: Folha de S. Paulo, País tem 70% das praias impróprias para banho em áreas urbanas, 21/12/17.
  11. Fundação SOS Mata Atlântica, 2020. Ver mais em: Legado das Águas, Mata Atlântica concentra nove das 12 bacias hidrográficas brasileiras, 23/03/20.
  12. https://www.archdaily.com.br/br/01-78672/agricultura-urbana-o-que-cuba-pode-nos-ensinar
  13. Pesquisa de Orçamentos Familiares, IBGE, 2017-2018. Ver mais em: Agora São Paulo, Arroz e feijão estão perdendo espaço na mesa do brasileiro, 30/08/20.

Segurança climática

Segurança: como preparar a cidade para enfrentar riscos, em tempos de mudanças no clima 

As cidades precisam aprender a oferecer segurança e proteger seus habitantes, nestes tempos desafiadores que estão pela frente. Veremos nos próximos anos um aumento na quantidade e na intensidade de eventos extremos — ciclones, enchentes, secas, incêndios. Uma cidade resiliente precisa estar pronta para tratar essas emergências de modo que cause menos impacto na sociedade e que proteja seus cidadãos e cidadãs.

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Manter as pessoas seguras, no século 21, tornou-se um trabalho de grande complexidade, que exige um corpo de servidores especializados, com conhecimento técnico, de várias áreas. Vai muito além de gerir forças armadas. Viveremos nos próximos anos eventos extremos como nunca vimos antes: tempestades, enchentes, secas, incêndios, epidemias. Veremos também combinações cada vez maiores entre esses eventos, com múltiplas ameaças se abatendo simultaneamente sobre as cidades e as pessoas. Os modelos feitos pelos cientistas são bem claros: cidades de todas as regiões do Brasil sofrerão com isso1. É inevitável.

O que pode sim ser evitado é a perda de vidas, o sofrimento humano e a disrupção social que esses eventos causarão. Qualquer gestão pública nestes tempos perigosos precisa estar focada em preparar sua cidade para os desafios que vêm aí — porque é certo que eles virão.

Mostra mudanças climáticasSão tempos também de política inflamada, com muita raiva e polarização e de crise econômica, com pobreza e desemprego. E os índices de violência estão altíssimos. Nesse clima inflamável, é prudente que a gestão da cidade trabalhe para reduzir as tensões e promover o diálogo, abrindo canais de comunicação.

O cuidado do espaço público é uma política de segurança. Espaço limpo, bem iluminado, mantido com capricho atrai a comunidade para a rua e reduz a depredação e a violência. Estimular a vida comunitária — crianças brincando, vizinhança convivendo em harmonia, mães e pais na janela, comerciantes na porta dos seus negócios, pessoas caminhando — é um jeito de aumentar a segurança 2

Envolver os habitantes, inclusive os jovens, em todas as decisões que lhes dizem respeito é fundamental para que essas políticas funcionem. Quando a população se apropria dos espaços o trabalho de promoção da segurança é compartilhado por toda a comunidade.

Adaptação climática

Bairros seguros

 

IMAGINE O DIA em que as pessoas poderão viver nas cidades sem medo. Com isso, aumentam as taxas de confiança nas outras pessoas, que no Brasil hoje estão entre as mais baixas do mundo. Confiança é a base de comunidades felizes e prósperas – quando as pessoas confiam umas nas outras, surgem parcerias e negócios acontecem.

NÃO ESQUEÇA: Soluções verdadeiras para a segurança demandam paciência e visão de longo prazo. Só que o eleitorado está com medo e demanda soluções imediatas. Conciliar esse senso de urgência com a necessidade de começar uma construção lenta na direção certa vai demandar uma gestão transparente e participativa, na qual todo mundo sinta-se escutado.

Conteúdo revisado em 15 de dezembro de 2023.

  1. PBMC, 2016: Mudanças Climáticas e Cidades. Relatório Especial do Painel Brasileiro de  Mudanças  Climáticas  [Ribeiro,  S.K.,  Santos,  A.S.  (Eds.)].  PBMC,  COPPE  –  UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil. 116p.
  2. Esse é o conceito de “olhos da rua”, criado pela escritora Jane Jacobs no clássico do urbanismo “Morte e Vida de Grandes Cidades”.
  3. Ministério do Meio Ambiente: Panorama da Erosão Costeira no Brasil, Programa de Geologia e Geofísica Marinha, 2018. Ver mais em: Ambiente Brasil, Como a erosão afeta 60% do litoral brasileiro e deforma centenas de quilômetros de praia, 14/01/2019.
  4. https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/04/11/datafolha-aponta-que-51percent-dos-brasileiros-tem-medo-da-policia-e-47percent-confiam-nos-policiais.ghtml
  5. Instituto Locomotiva, 2018. Ver mais em: G1, Brasileiros não se sentem representados por políticos em exercício, aponta pesquisa. 02/02/2018.
  6. Instituto Igarapé, 2016: Tornando as cidades mais seguras:Inovações em segurança cidadã na América Latina. Rio de Janeiro, Brasil, p. 18-22.

Infraestrutura e planejamento

Infraestrutura e planejamento: como cuidar da cidade para ela crescer certo

infraestrutura e planejamento

 

As cidades precisam de um novo modelo de crescimento, para continuar atraindo pessoas sem expandir de forma desenfreada, com uma infraestrutura que não destrua seus recursos naturais. Essa transformação demanda uma gestão eficiente do adensamento e uma lógica construtiva mais responsável.

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Cidades são sistemas vivos. Elas têm um metabolismo: um fluxo de substâncias que circulam, alimentando seus processos. E, assim como uma árvore, ou um jardim, elas crescem, de maneira imprevisível, até certo ponto. Gerir uma cidade é cuidar desse processo complexo, zelando pelo bom funcionamento do metabolismo, e organizando os fluxos para que elas cresçam bem, sem destruir o ambiente a que pertence.

Hoje, no Brasil, as cidades estão crescendo mal. Elas vêm se  expandindo sem parar, de forma desordenada. Esse tipo de crescimento pressiona tanto a infraestrutura da cidade — que passa a ter que expandir cada vez mais sua malha de transporte, água, esgoto e energia — quanto o ambiente ao redor, deixando vulneráveis áreas de preservação ambiental, mananciais e toda a biodiversidade. 

Pessoas em uma estrutura portuária

As grandes cidades crescem de forma desenfreada, buscando recursos como água e matéria prima cada vez mais longe e gerando conflitos e escassez em outros territórios. Esse modelo tampouco é necessário: um estudo comparativo1 mostrou que, enquanto Atlanta abrigava 2,5 milhões de pessoas numa área construída de mais de 4.000 km² nos anos 1990, Barcelona acomodava a mesma quantidade de pessoas numa área 25 vezes menor, de apenas 160 km². Um exemplo prático para mostrar que é possível reduzir os impactos socioambientais causados pelas cidades ao planejá-las de maneira inteligente.

Para isso, é crucial encurtar os circuitos de produção e consumo, valorizando e respeitando os insumos locais e estimulando o desenvolvimento de novos modelos produtivos dentro da cidade, da agricultura ao reflorestamento comercial e nativo. Uma mudança de direção que demanda, por um lado, adensar a cidade para dentro, buscando aproveitar ao máximo a área já ocupada. Por outro, parar de devorar recursos cada vez mais distantes, transformando os resíduos já acumulados nas cidades em matéria-prima. Dessa maneira, é possível frear a expansão urbana destrutiva e regenerar as áreas verdes que cercam a cidade, para que ela volte a ser a fonte de água, ar e alimento.

Os governos municipais possuem grande potencial de atuação na sustentabilidade das construções e no planejamento do crescimento urbano. As prefeituras podem induzir e fomentar boas práticas por meio da legislação urbanística, do código de edificações, dos incentivos tributários e convênios com as concessionárias dos serviços públicos de água, esgoto e energia.

Adensamento 

Construção sustentável

IMAGINE O DIA em que a vida da cidade deixar de produzir exclusão e destruição. Cidades são lugares de enorme abundância, mas de desperdício maior ainda. Depois de alguns mandatos de gestões municipais atentas, é possível reequilibrar esse metabolismo, cuidando para que cada processo da cidade ajude a alimentar algum outro, o que leva tudo ao equilíbrio.

NÃO ESQUEÇA: respeite a cidade como o sistema vivo que ela é. O trabalho do gestor não é impor seu olhar sobre a cidade, determinando seus usos, prevendo o que ela será no futuro. Um bom gestor é mais como um bom jardineiro, que fornece recursos, alimentos e espaço, mas deixa que a vida se expresse, sem querer controlar tudo.

Conteúdo revisado em 15 de dezembro de 2023.

  1. https://usa.streetsblog.org/2014/09/03/wowza-scale-maps-of-barcelona-and-atlanta-show-the-waste-of-sprawl/
  2. Ver em: Brasil tem 6,9 milhões de famílias sem casa e 6 milhões de imóveis vazios, diz urbanista. BBC Brasil, 07/05/2018.
  3. International Resource Panel, 2020. No relatório: “Resource Efficiency and Climate Change: Material Efficiency Strategies for a Low-Carbon Future”. Os dados também foram incluídos no texto de recomendações: “Construindo sociedades resilientes após a pandemia da Covid-19”.

Orçamento público para uma cidade sustentável

Para mudar uma cidade, gestoras e gestores públicos primeiro precisam entender como funciona o instrumento mais poderoso que eles tem na mão: o orçamento público.

Orçamento: como viabilizar um projeto sustentável de cidadeNossas cidades precisam mudar. Prefeitas, prefeitos, vereadores e vereadoras eleitos este ano têm a oportunidade histórica de operar essa mudança, estabelecendo um rumo a ser perseguido. Para fazer isso, é preciso ter senso de urgência, mas ao mesmo tempo uma visão de longo prazo, sem a qual será impossível chegar em algum lugar. O instrumento fundamental para construir essa visão é o orçamento municipal, assunto pouco discutido, mas que gera muitas consequências.

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O primeiro ano do mandato desses gestores e gestoras será fundamental para que essa mudança de rumo aconteça com a urgência necessária. Isso porque o primeiro ano do mandato é quando as Câmaras Municipais votam o Plano Plurianual (PPA), que define todas as grandes metas da gestão, dando as linhas gerais sobre as quais será traçado todo o orçamento que a prefeitura terá ao longo dos quatro anos. Grandes projetos e obras precisam estar no PPA para poderem acontecer.

Na negociação das prioridades do plano, é absolutamente certo que haverá pressão forte para que as cidades continuem como estão — a força mais implacável na gestão pública é a inércia. Há uma tendência a repetir soluções paliativas que já não funcionam e custam caro, comprometendo o orçamento sem trazer grandes impactos. Quem quer mudar a cidade profundamente precisa estar atento em 2021, para garantir que a mudança de paradigma que se faz necessária na gestão pública esteja prevista no PPA.

Ilustrar algo relacionado à orçamentoAlém do PPA, o orçamento se expressa em outras duas leis, essas aprovadas todos os anos: a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA) – a primeira define as regras e prioridades do orçamento de cada ano, a segunda estima custos e receitas.

Prefeitas, prefeitos, vereadores e vereadoras que querem deixar sua marca precisam estar atentos a esse processo. Diz-se que a prefeitura é a dona do cofre, mas a Câmara é que têm a chave. Se elas não conseguirem trabalhar juntas, nada vai acontecer.

Não serão tempos fáceis, com os orçamentos públicos sendo picotados diante da crise econômica. Mas os governos que souberem pensar estrategicamente e tiverem gente competente buscando pelo mundo oportunidades de financiamento vão conseguir se aproveitar de uma grande diversidade de novas fontes de recursos, nacionais e internacionais. 

MUDANÇAS CLIMÁTICAS

 

IMAGINE O DIA em que a população das cidades se apropriar do orçamento público, participando de sua elaboração, compreendendo seus critérios e acompanhando sua execução. Dar transparência ao gasto público não é positivo apenas porque evita malversação, mas também porque atrai os cidadãos para perto e torna-os parceiros no trabalho coletivo de cuidar da cidade.

NÃO ESQUEÇA: a crise econômica, a crise ambiental e a crise sanitária demandam ação imediata. 2021 é um ano crucial para destinar recursos para lidar com todos esses problemas sistêmicos. O que não for planejado agora pode acontecer tarde demais.

Conteúdo revisado em 15 de dezembro de 2023.

Gênero e raça: como criar cidades para todo mundo

As cidades brasileiras são muito injustas. Torná-las mais inclusivas e distribuir melhor as oportunidades é fundamental para deixá-las mais resilientes diante das graves crises que se impõem – no clima e na saúde.

Nossas cidades estão enfrentando os efeitos negativos de dois grandes eventos: as mudanças climáticas e a pandemia. Essas duas crises têm em comum o fato de que atingem de maneira desproporcional as mulheres, principalmente as negras, indígenas, quilombolas e outros grupos marginalizados. É entre as mulheres, principalmente as mais pobres, que o desemprego provocado pela crise sanitária é maior, assim como o acúmulo impossível de tarefas1. Elas também integram os grupos mais vulneráveis às crises climáticas, e as que têm menos acesso a medidas de adaptação2.

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Não é justo que o maior preço a pagar pelas mudanças climáticas seja mais alto a depender do gênero, da raça ou da classe. Até porque esses grupos vulneráveis já vinham pagando um preço mais alto que os outros. Mulheres, principalmente negras, indígenas, quilombolas, LGBTQI+ e outras minorias sociais já têm muito menos acesso à cidade. Suas oportunidades de aprendizado, de renda, de oferta de serviços, de conexões, de realização, de cuidado, de bem estar nos nossos espaços urbanos são mais limitadas que a de homens, especialmente brancos.

Na origem dessa desigualdade está um desequilíbrio na divisão do trabalho. No mundo todo, mulheres fazem dois terços do trabalho remunerado de cuidado —  em funções como enfermeira, professora, e também empregada doméstica, cozinheira —, e três quartos do trabalho não remunerado de cuidado, zelando pela casa, pela família e pela vida de crianças, de doentes, de idosos3. A economia não valoriza esse trabalho, sem o qual a vida em sociedade seria impossível. É dessa desvalorização que vem a injustiça das nossas cidades.

Uma jovem mulher negra está em um transporte público usando o celular.

Corrigi-la requer um olhar novo sobre basicamente tudo. As cidades têm que se reorganizar para distribuir de forma mais equilibrada as oportunidades, os serviços e os recursos, hoje mais concentrados nos centros, o que impõe sérios riscos à população que hoje vive nas periferias4. O sistema de mobilidade precisa ser em rede, conectando tudo, e não radial como é hoje, conectando apenas o centro com as bordas. E o espaço público precisa ser cuidado com capricho, para ser convidativo e seguro. Hoje as mulheres sofrem com uma imobilidade urbana extrema, imposta por um território hostil: 86% das mulheres brasileiras já sofreram assédio no espaço público5.

Criar políticas para incluir essas pessoas é bom para a cidade toda. É por isso que qualquer cidade precisa buscar constantemente dois objetivos: a inclusão socioeconômica dos grupos mais vulneráveis e uma divisão mais igualitária do trabalho de cuidado entre as pessoas, no núcleo familiar, e também entre o individual e o coletivo.

Inclusão socioeconômica

Compartilhamento do trabalho de cuidado

 

IMAGINE O DIA em que cuidar das crianças de uma cidade será uma responsabilidade compartilhada pela cidade toda. É como diz o ditado do povo yorubá, na África: precisa de uma aldeia para criar uma criança. É do interesse de todos na cidade que ela se torne um lugar onde as crianças cresçam bem, inclusive porque nada tem mais valor para a economia do que o capital humano, que é o potencial de cada pessoa de gerar riqueza. Ao delegar quase que exclusivamente às mulheres esse trabalho essencial para a continuidade da vida, quase sem ajuda alguma, nossa sociedade limita injustamente a realização que as mulheres conseguem atingir em outras esferas da vida.

 

IMAGINE O DIA em que o cuidado será uma responsabilidade compartilhada pela cidade toda. Os serviços de saúde, educação e acolhimento serão distribuídos de forma equilibrada por todos os bairros, e não haverá pessoas sobrecarregadas com o trabalho de cuidado. Também não haverá pessoas desproporcionalmente afetadas pelas crises que tivermos que enfrentar, e todo mundo terá acesso aos recursos e às condições necessárias para contornar os desafios que se apresentarem. Será prioridade da cidade cuidar de todas as pessoas que a habitam, para que elas possam crescer, se desenvolver e prosperar, junto com toda a comunidade.

Conteúdo revisado em 15 de dezembro de 2023.

  1. Ver mais em: Coluna de Gabriela Chaves, UOL, Mulheres são mais afetadas na pandemia com desemprego e acúmulo de tarefas, 10/09/20.
  2. Ver mais em: ActionAid, Mulheres, mudanças climáticas e pobreza, 16/10/19.
  3. Esse dado consta deste relatório sobre o trabalho do cuidado, produzido pela Organização Internacional do Trabalho. OIT, Care work and care jobs for the future of decent work, junho 2018
  4. Ver mais em: Nexo Jornal, Por que as periferias são mais vulneráveis ao coronavírus, 18/03/20.
  5. ITDP Brasil, O acesso de mulheres e crianças à cidade, 2018.
  6. Ver mais em: Folha de S. Paulo, Taxa de desemprego chega a 17% entre mulheres e 16% entre negros, 23/10/20.
  7. Ver mais em: Diário do Nordeste, Fundos emergenciais levam socorro a microempreendedores negros e mulheres, 14/04/20.
  8. Sebrae e FGV, O impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios, 2020. Ver mais em: UOL, Os que mais sofrem na crise, 02/07/20.
  9. Agência Brasil, Empresas lideradas por mulheres negras são mais atingidas por pandemia, 03/08/20.
  10. Nove em cada dez mulheres já sofreu assédio no espaço público, ver mais em ITDP, O acesso de mulheres e crianças à cidade, 2018.
  11. Ver mais em: Jovem Pan, Oito em cada dez mulheres têm medo de andar sozinhas na rua à noite, 15/03/18.
  12. Ver mais em: O Globo, Covid-19 é mais letal em regiões de periferia no Brasil, 03/05/20.
  13. Anesp, População negra está mais exposta e morre mais pela Covid-19, 13/05/20.
  14. CRP-SP, Saúde mental da população negra importa, 2019.
  15. Ver mais em: Nós mulheres da periferia, Covid-19: professoras da periferia explicam por que a educação está em risco, 05/05/20.
  16. Fenatrad, Confira o artigo de Luiza Batista e Liana Cirne Lins, ‘Guia para patroa feminista’, 26/05/20.
  17. Prefeitura de São Paulo, Mulheres e seus deslocamentos na cidade: uma análise da pesquisa Origem e Destino do Metrô, 06/03/20.
  18. Para conhecer todas as especificidades e possibilidades do Bilhete Único, acesse: https://www.sptrans.com.br/tarifas.
  19. Vá de Bike, Por que há poucas mulheres pedalando de bicicleta, 10/03/19.