Im.pulsa

Agosto 25, 2022. Por Im.pulsa

Destaque-se e lembre-se do papel das emoções

Forma parte de: A reta final de sua campanha

Por María Paz Aedo

O que distingue você dos outros candidatos?

Nesta etapa, você deve deixar seus atributos e propostas de campanha mais claros do que nunca! 

Enfatize o que distancia você de seus concorrentes e a capacita como alternativa. A diferenciação pode ser baseada tanto na oposição direta, enfatizando dicotomias; quanto na integração / transcendência, enfatizando a maior “riqueza” de seus atributos e propostas. A oposição implica confronto; integração / transcendência implica superação. 

Tabela 3: Exemplos de diferenciação

Estratégia Ações
Oposição
  • Se o seu adversário está há anos no cargo ou em cargos afins e esta é sua primeira aplicação, enfatize a velha / nova dicotomia, conservação / transformação.
  • Se seu adversário defende a mercantilização e privatização de serviços públicos e bens comuns, enfatize a dicotomia público / privado, serviços / direitos, privilégios / acesso.
Integração / transcendência
  • Se o seu adversário se opõe ao reconhecimento dos direitos das mulheres, enfatize que você ouve as demandas históricas da maioria e que está em sintonia com os eleitores.
  • Se seu adversário defende, a todo custo, o modelo neoliberal, enfatize que a crise em curso exige uma mudança de paradigma, baseada no bem viver, na justiça social, no cuidado com o meio ambiente e etc. 
  • Se o seu adversário opõe o cuidado ambiental à geração de empregos e à defesa das indústrias extrativas, enfatize que esse modelo destrói o planeta e beneficia poucos. Por isso, é preciso passar para outras formas de geração e distribuição de riqueza. 

Dica: É muito útil dar exemplos de situações críticas que você conhece, pois isso deixa evidente que você domina o assunto e que, portanto, é essencial apoiar as mudanças que sua campanha oferece e que você tem os atributos para alcançá-las.
 

Reciprocamente, na reta final, sua candidatura receberá mais questionamentos ou confrontos de candidaturas e equipes que buscam se diferenciar e disputar seu mesmo eleitorado. 

Sob a premissa de que “não há publicidade boa ou má, tudo é publicidade”, você pode receber provocações diretas e indiretas. É importante cuidar de si e da equipe, escolhendo o que disputar e com quem, evitando responder a todos (principalmente, aqueles que a confrontam para se tornarem visíveis). 

Dicas:

  • Não dê plataforma para quem busca se diferenciar às suas custas. Pode ser tentador, especialmente se o ataque for pessoal ou questionar princípios que são muito importantes para você, mas evite dar a publicidade que ele está procurando;  
  • Não responda a provocações nas redes sociais. É uma perda de energia, ainda mais na reta final, quando não há tempo suficiente para se recuperar do desgaste. Se isso acontecer, bloqueie a conta de quem começou. Se o ataque for violento, faça uma captura de tela, denuncie a conta e/ou denuncie à autoridade apropriada. 
  • Se você for confrontada com ideias que não são de sua especialidade, ofereça uma resposta enquadrada em um escopo ou tópico maior que a inclua. Muitas vezes, esses tipos de perguntas são feitas para revelar uma fraqueza. Não caia nessa armadilha! (Por exemplo: se você for questionada sobre o padrão de emissões que deve reger as cidades saturadas de poluentes (!!!), você pode responder que esse tipo de especificidade deve ser enquadrada em uma perspectiva estratégica, que reconheça a crise ecológica e proteja a justiça ambiental.

Afetos e emoções em processos eleitorais

Historicamente, associamos o trabalho político, especialmente o eleitoral, a questões de cálculo, pragmatismo e metas. No entanto, um aspecto fundamental das campanhas tem a ver com os afetos e emoções que estão em jogo.

É muito importante distinguir o “carimbo” emocional da campanha na reta final. No caso de campanhas de mulheres comprometidas com a democracia, a equidade e a justiça social precisam empoderar o eleitorado, convidá-lo a ressoar com essas propostas, empolgá-lo e inspirá-lo. É preciso fazer com que reconheçam, na candidatura feminina, a oportunidade de ser e ver refletido o que anseiam. Isso é épico em uma campanha!

Campanhas que invocam o medo ou que instalam a ideia de um inimigo a ser atacado geram uma resposta emocional poderosa, mas fugaz: não permitem construir um país, mas, sim, aspirar à eliminação daqueles que são considerados “culpados”. Esse foco reducionista foi a marca de campanhas como a de Trump e Bolsonaro. Diante disso, pode-se oferecer uma visão ampla, crítica e esperançosa do mundo ao mesmo tempo, com foco na participação, escuta e cocriação. 

Esses afetos e emoções, que mobilizam a campanha, precisam de um correlato interno. Caso contrário, a equipe sofrerá. Se em seu programa você promete apoiar o trabalho de cuidado, é muito importante ter práticas de cuidado mútuo dentro das equipes e redes que a apoiam. 

Embora seja normal – e muito humano – ter contradições e paradoxos, promover a coerência entre discurso e prática é um desafio político muito importante, tanto durante a campanha quanto depois dela. 

Sobre a autora: Socióloga, doutora em educação e coach ontológica. Atua na formação de lideranças sociais em temas de ecologia política e ecofeminismo; e na pesquisa sobre instituições ambientais, afetos, resistência e artivismo. Colaborou em vários processos de campanha política e eleitoral no Chile, além de participar ativamente dos movimentos feministas e ambientalistas.
 

Im.pulsa

Plataforma aberta e gratuita para inspirar, treinar e conectar mulheres, auxiliando-as a superar desafios políticos e produzir campanhas vencedoras. Oferece formação política para mulheres por meio de produtos práticos com linguagem acessível e afetiva. A Im.pulsa é feita por e para mulheres.