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Elas Votam: uma conversa política entre mulheres.

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Essa trilha é uma conversa entre mulheres sobre política. Vamos falar mais sobre o voto, sobre o sistema eleitoral e outros assuntos que ajudem mulheres eleitoras a tomarem decisões mais conscientes e informadas, fortalecendo a democracia brasileira.

Setembro 26, 2022. Por Impulsa

Esquerda ou direita, para que lado devo virar?

Por Bárbara Melo

Falar sobre ideologia de esquerda ou de direita é como falar sobre uma espécie de “bicho papão”. Afinal, vivemos um momento em que fugir dos chamados “extremos” é um ideal buscado por parcela significativa da sociedade. Na intenção de tirar a máscara desse “monstro”, escrevo esse texto, expondo brevemente o que são esses conceitos e trazendo algumas provocações.

Muito antes de Cazuza, o filósofo francês Conde de Tracy apresentou o conceito de ideologia. Seu objetivo era desenvolver uma ciência para compreender como ocorre a formação das ideias na cabeça das pessoas. Essa ciência seria chamada de ideologia. Tracy era um iluminista, acreditava na força das ideias de seu tempo, sendo, à época, um adversário político de Napoleão Bonaparte, que o acusava de ideólogo, a fim de rebaixar suas proposições filosóficas, já que essas vinham agitando a sociedade burguesa do século XIX.

Mas com o passar do tempo, a palavra ideologia foi tomando novas formas. Karl Marx atribuía a ideologia à percepção da realidade. Ele acreditava que ela vinha de uma classe dominante e formava as ideias da sociedade de sua época – ideias essas que eram absorvidas por todos, até por aqueles que eram explorados. 

Muitas outras figuras atribuíram significado à palavra. Mas, basicamente, a ideologia pode ser resumida como a maneira em que um conjunto de pessoas pensam. E, mesmo sem parar para refletir sobre isso, os grupos sociais carregam, em sua formação, algum tipo de ideologia.

E quando que as ideologias se tornaram de direita ou de esquerda?

Lá na época da Revolução Francesa de 1789, durante a realização da Assembleia Constituinte, havia grupos organizados, os girondinos e os jacobinos. Os primeiros eram de camadas mais ricas da sociedade, sendo mais conservadores e conciliadores, que se sentavam à direita. Já os jacobinos eram considerados mais radicais e sentavam-se à esquerda da assembleia. Vale ressaltar que a Revolução Francesa foi um processo conduzido pela burguesia. Mulheres e pessoas pobres não participavam dos debates da época e as questões que dividiram os participantes entre direita ou esquerda não são as mesmas que hoje dividem essas visões políticas.

Como ideologia é uma forma de pensar, ser de direita ou de esqueda está ligado a forma como a pessoa pensa a sociedade. As pessoas de direita ou de esquerda têm pensamentos diferentes de como devem atuar o Estado e o mercado, por exemplo. E esse pensamento guia a forma com que as políticas públicas serão executadas por cada um desses grupos políticos, caso cheguem ao poder.

 

Mas o que é o Estado?

Pode-se dizer, de forma mais simples e direta, que o Estado é o conjunto das instituições que administram o país.

Exemplo de instituições: Presidência da República, Prefeitura, Ministério Público, Câmara dos Deputados… Ou seja, poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O governo é o grupo político que está à frente do Estado. Neste ano, vamos votar para eleger representantes para os cargos municipais, escolhendo vereadoras(es) e prefeitas(os).

E o que é mercado?

É onde ocorre o processo de trocas de bens e mercadorias. Este local não é uma estrutura física, mas um termo para exemplificar o sistema de trocas, ou seja, a relação entre a oferta e a demanda. Existe, por exemplo, o chamado mercado de trabalho, que é a relação de troca entre capital e trabalho.

O que são políticas públicas?

São ações do Estado para colocar em prática o que é previsto em lei. Por exemplo: os benefícios sociais são políticas públicas, previstas na Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS).

Continuando…

Agora que já sabemos o que é Estado, o que é mercado e o que são políticas públicas, vamos entender por que eles são tão importantes.

Os pensadores econômicos que acreditam na autorregulamentação do mercado, ou seja, que as leis de oferta e demanda se ajustam, defendem que o conjunto das instituições públicas, seja o Executivo, Legislativo ou Judiciário, devem atuar para deixar que o mercado aja livremente. Segundo eles, se o Estado interferir demais, ele provoca uma série de consequências ruins na economia. Esses pensadores se organizam, conjuntamente, aos partidos e organizações de direita. 

Já as organizações de esquerda atuam como contestadoras dos grupos que estão no poder econômico e acreditam que o mercado, no capitalismo, não será capaz de atuar para garantir o equilíbrio na sociedade e o acesso de todos a seus direitos. Por isso, elas acreditam que é papel do Estado atuar de forma mais incisiva na economia. Não à toa, as privatizações são feitas com maior volume quando o país é governado pela direita. Nos discursos de direita, a liberdade econômica também tem um tom elevado, bem como o merecimento individual, enquanto que, nos de esquerda, a promoção dos direitos sociais tomam lugar de destaque.

A relação entre sociedade e mercado é uma questão estrutural. A partir dela, a materialização da vida ocorre. É ela, por exemplo, que determina o preço do pão e se as pessoas vão comer. Mas também existe uma série de outras questões para além dessas. Portanto, é muito difícil as ideologias caberem apenas em dois partidos. Afinal, a pluralidade partidária de expressões de ideias faz parte da democracia.

Ocorre, porém, no Brasil, um fenômeno chamado fisiologismo, ou seja, partidos políticos são formados como espécie de “partidos de aluguel”, onde as ideias não estão muito claras, ficando, portanto, difícil para o eleitor se encontrar nessa salada de siglas. Assim, a separação entre partido político e ideais impacta negativamente na educação política do eleitorado. 

Por isso, é tão importante a gente se reconhecer enquanto sujeito político e entender mais daquilo que acredita, pois só com uma sociedade ligada na política será possível interferir, de fato, nos rumos do país. A democracia não é só ir lá e votar. Existem muitos interesses em jogo e que se mantêm em constante movimento. Se a gente ficar parado e não conhecer bem as ideias de quem estamos votando, a política brasileira será como na época da Assembleia Constituinte, lá na Revolução Francesa: só com homens, todos brancos, sem a participação do povo e com baixa representatividade da nossa realidade.

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Sobre a autora: Bárbara Melo tem 27 anos e é de Senador Camará, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Militou no movimento estudantil por dez anos, já presidiu a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, fez parte da União Estadual dos Estudantes (UEE), do Centro Acadêmico de seu curso na graduação e da União Brasileira de Mulheres. É formada em Gestão Pública pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-graduanda em Ciência de Dados. Em 2020, foi candidata à vereadora pela Campanha Delas. Hoje, trabalha com políticas públicas na Secretaria da Mulher do Município do Rio de Janeiro.

Conteúdo revisado em 12 de dezembro de 2023.