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Elas Votam: uma conversa política entre mulheres.

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Essa trilha é uma conversa entre mulheres sobre política. Vamos falar mais sobre o voto, sobre o sistema eleitoral e outros assuntos que ajudem mulheres eleitoras a tomarem decisões mais conscientes e informadas, fortalecendo a democracia brasileira.

Setembro 30, 2022. Por Impulsa

Não vote em branco. Proteja as pretas!

Por Nathália da Silva 

A renovação do quadro político brasileiro tem sido protagonizada pela disposição de mulheres negras, indígenas, quilombolas, faveladas, LGBTs e PCDs. Há sementes de revolução brotando nos parlamentos, para redirecionar as pautas políticas e priorizar as demandas daqueles que sofrem, cotidianamente, as desigualdades.

Nestas eleições, que têm como meta a derrota de um governo racista e misógino, eleger mulheres negras e indígenas é dar um novo passo em busca de políticas efetivas de reparação e igualdade. Isto se dá porque as pretas e indígenas que hoje concorrem ao poder são netas e bisnetas de mulheres e homens escravizados e explorados, que sentiram na pele o peso da colonialidade – e que, ainda hoje, se perpetua na negação de direitos e humanidade.

Mulheres negras formam o maior grupo demográfico no país, sendo 27% da população brasileira. No entanto, não são proporcionalmente representadas nos espaços legislativos. A ausência de corpos negros em espaços de poder é o retrato da falsa democracia que vivemos e fruto de um sistema eleitoral e partidário excludente. 

Só quem sabe a dor de perder um filho para a violência do Estado saberá da importância de criar uma política de segurança que priorize a inteligência, e não o confronto. Assim como somente aquelas que já sentiram o oco do prato vazio entendem a urgência de se discutir formas de enfrentamento à fome e à miséria. 

Como, por exemplo, Benedita da Silva, que foi empregada doméstica e, desde criança, ajudava sua mãe, lavadeira do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Em 2013, já como deputada federal e relatora da PEC das Domésticas, Benedita se uniformizou como trabalhadora doméstica para defender os direitos das trabalhadoras do setor. Quem vivencia as injustiças tem total qualificação para representar seu povo e seus semelhantes em espaços de poder.

No entanto, além de eleger mulheres negras, é preciso proteger essas figuras da violência política de gênero e raça. Dados do Instituto Marielle Franco mostram que 98% das candidatas negras sofreram algum tipo de violência política nas últimas eleições. A branquitude não tolera dividir a cadeira com pessoas negras. E a violência serve como ferramenta para interromper os projetos políticos que beneficiam pessoas pretas e pobres.

Cabe ao Estado e ao partidos estabelecerem estratégias de proteção e responsabilização contra as agressões sofridas. Ser candidata ou parlamentar negra não pode ser um risco de vida e, sim, o nascer da esperança nessa sociedade, marcada pelo sangue dos nossos ancestrais. 

Diferentemente de homens cis brancos, mulheres negras não têm um sobrenome que abre portas. Elas precisam ser escancaradas. Por isso, a coletividade com seus semelhantes é o que faz a diferença nesses espaços. Eleger uma pluralidade de mulheres negras é abraçar diferentes legados, que se iniciam nos quilombos e, hoje, se reencontram na luta.

Se, de um lado, temos parlamentares que só conhecemos pelo histórico familiar corrupto e o empenho de legislar contra o povo; do outro, temos candidatas que há tempos lutam pela dignidade dos morros, becos e vielas, para que os seus vivenciem uma nova perspectiva de futuro.

O impacto da presença de negras nos espaços de decisão é justamente a mudança do que se entende como figura política. Além disso, é a reorganização de pautas essenciais, como o direito concreto à liberdade religiosa, à implementação efetiva da Lei 10.639/2003 e às decisões mais estratégicas e cuidadosas, diante de tamanha brutalidade vivenciada pelo nosso povo.

Não faltam opções. Seu voto tem poder de mudança. Eleja e proteja mulheres negras!

Sobre a autora: Nathália da Silva é uma jornalista preta da Baixada Fluminense (RJ). Atua como social media na Rede de Observatórios da Segurança e no LabJaca. Por meio da escrita, eterniza opiniões e pensamentos, que buscam humanizar pessoas negras e faveladas.